segunda-feira, 21 de novembro de 2011

... o que cabe em um ano (2)...

Qual o tamanho de um ano? Como seria possível medir o tempo? O nosso tempo. O quanto será que a gente consegue suportar em 12 meses? 365 dias, 8.760 horas. O que sobra da gente depois de um ano que simplesmente virou tudo do avesso? 

Há exatamente um ano, eu era uma menina. Eu era namorada de um menino, morava com os meus pais e três cachorros. Foi quando eu virei tia. Minha vida começou a mudar. Eu amava tanto aquela criaturinha que precisava ser melhor para ela. Precisava merecer esta menina que me fez acreditar que o mundo ainda vale a pena.


Poucos dias depois, o menino me deu um anel. Eu aceitei e não era mais a namorada dele. Eu era a noiva e ele o noivo. E por isso, tínhamos que pensar em ter uma casa nossa. Em organizar uma festa, com a nossa cara, com a nossa turma.


A festa estava quase toda pronta, com data, hora, latitude e longitude. Então meu pai morreu. Não existe outra maneira de dizer. Foi assim mesmo. Ele morreu. Assim, como um soco no estômago. Dói e faz perder o ar.

Mas mesmo sem fôlego precisávamos respirar. Viver. Vendemos a casa. Compramos outra, depois de visitar muitas. Fizemos a mudança. Uma festa. Linda. Exatamente como a gente queria. Agora ele virou o marido e eu a mulher. Com uma casa nossa e uma família bem maior. 

Só um ano se passou e eu que achava que entendia tudo, vi que, na verdade, eu não entendia nada. Agora sou adulta. Sei que não entendo nada. E também sei que, alguns dias dessa vida, eu simplesmente tenho o direito de ser só uma menina que sente falta do pai.

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

...Telefone sem fio...


O melhor de crescer e envelhecer é ficar mais seletiva. Com a minhas escolhas e principalmente com as pessoas. Mesmo assim, escolhendo, acho que é difícil escapar do telefone sem fio. É uma estupidez sem tamanho, mas acontece todos os dias. A pessoa te encontra na rua, no mercado, no trabalho, te olha e só aí já tirou centenas de conclusões. É a sua roupa que estava de um jeito, seu carrinho do mercado cheio de bebida, saiu sem aliança de casa, enfim, qualquer coisa vira motivo.

Eu não gosto de medir palavras, nem de me preocupar em como as pessoas me vêem. Por isso tenho tentado evitar ficar perto de pessoas com as quais sei que tenho que pensar bem no que e em como eu falo. Porque no ouvido de algumas pessoas, qualquer palavrinha mal colocada pode virar um absurdo. E, vamos combinar, depois dos 33 anos, ter que ficar medindo palavras perto dos amigos e da família é o fim.

Que fique claro, sou uma pessoa normal ta? Não sou aquele ser humano zen-budista que vive no seu mundo e ignora solenemente os seres inferiores. Como todos nós também ouço e faço fofocas. Mas existem regras para isso. Se o comentário é ruim, só acho válido falar se for ajudar alguém. Se for bom, qual o problema? Porque sim, existem fofocas boas. Às vezes a gente fica sabendo de algo, se empolga e conta, sem necessidade, mas também não por maldade.

Fofoca é analisar a roupa da outra, comentar que fulano está ficando careca, rir das bobagens que alguém diz. Quem nunca fez isso na vida? Agora intriga é usar a fofoca de forma maldosa e inconseqüente. É quando alguém te conta algo que não deve ir adiante e você saí espalhando e deixando a pessoa numa situação ruim. Intriga é algo bem além da simples fofoca, prejudica, deixa marcas que muitas vezes ultrapassam os limites do bom senso. Pior quando ali, no meio do telefone sem fio colocam uma mentirinha, dão uma aumentadinha na história pra ficar mais interessante. É aí que complica.

Já compartilhei informações demais. E fui extremamente julgada por quem não me conhecia e, infelizmente por pessoas que diziam me amar e me conhecer. Aí a culpa é minha. Posso parecer transparente demais, mas se engana quem pensa que eu sou assim, só aquilo que está no perfil do meu blog ou no facebook. Tudo bem, pra muita gente a vida se resume ao seu perfil virtual. Usam as redes sociais pra contar até que estão escovando os dentes, pra brigar, dar indiretas, fazer as pazes e o povo, conhecidos ou não, acompanham que nem novela. Sim, eu tenho um blog. Adoro escrever sobre sentimentos e divagações, mas agüento o tranco das minhas palavras e tenho uma vida muito cheia de coisas para viver. Assim como quase todo mundo eu tenho a minha vidinha virtual. Mas o meu mundo é muito maior. Não cabe numa telinha de computador, nem em bocas e ouvidos maldosos.