quarta-feira, 2 de abril de 2008

... quando explicar perde o sentido...

Queria explicar isso aqui que está dentro de mim. Mas não sei se existem palavras que me traduzam agora. Hoje é um daqueles dias em que nada acontece. As horas demoraram a passar. Saí do trabalho e fui pra casa quase como um robô. Não me lembro muito bem do caminho que fiz. Mas cheguei. Cheguei e me lembrei de você. Liguei a TV, mas não consegui me concentrar em nada daquilo. Parecia que você estava ali. Do meu lado. Eu estava cansada, te contando o meu dia estressante. Você me ouvindo e dizendo que adorava me ver vestida de executiva.
Fecho os olhos e coloco minha cabeça no seu peito. Você segura o meu rosto e me cala com um beijo. E aos poucos eu deixo de ser uma jornalista vestida de executiva. E me transformo numa menina boba, apaixonada e louca. E depois, com as nossas roupas todas emboladas no chão, a gente ri. O mundo pára. A gente não fala mais nada. E você encaixa o meu corpo todo no seu abraço forte. Eu estou nua, exposta, aparentemente vulnerável, mas inexplicavelmente segura. Com a certeza de que aquele era o único lugar em que eu queria estar.
Mas a verdade é que eu estava sozinha. Sozinha no meu quarto ouvindo palavras desconexas que pareciam estar vindo da TV. Fiquei lá, meio inconsciente, meu lúcida. Sem entender direito quem eu era. E o que o seu cheiro estava fazendo lá, no meu quarto. Queria sair, enlouquecer, jogar tudo pro alto, beber e esquecer você. Não deu. Fiquei lá. Procurando alguma coisa em mim que eu não sabia o que era. Alguma coisa só minha, que não tivesse você. E o que encontrei foi uma meia barra de chocolate Hershey's e uma camisa larga que você me deu por que eu gostava de dormir com ela. Ali, no chão. E eu me senti assim. Perdida no meu próprio quarto.
Estaria mentindo se dissesse que não senti raiva. Não gosto de me perder. De não ter controle. E eu percebi que não estava conseguindo lutar. Eu já estava caída na lona. Fui a nocaute no primeiro assalto. Você veio, e de um jeito insuportavelmente despretensioso tirou a chance de todas as bocas, abraços e cheiros. Me tomou como sua sem me dar chance de defesa. E me proibiu de ser de qualquer outro.
Eu precisava falar. Mesmo sem você estar lá pra ouvir. Precisava falar que nenhum beijo tirou o meu fôlego como o seu. Nenhuma língua soube percorrer todos os caminhos do meu corpo como a sua. Não adianta usar o mesmo perfume. O seu cheiro, ninguém tem. Até tentam dizer as palavras certas. Mas, você sabe, comigo palavras certas não funcionam. Gosto da surpresa. De uma cantada ruim, que me deixe com cara de boba. Por que quando alguém te rouba o chão, as palavras simplesmente saem. Parecem não ter sentido. E a gente percebe que o lindo da vida, o que faz diferença, é aquilo que a gente sente, mas não consegue entender.
P.S.: Antes que alguém me pergunte, o que escrevo aqui não reflete necessariamente o que eu sinto agora. Esse texto (além de vários outros) foi escrito muito tempo atrás. Mas, como diz a Fê Mello, o bom de escrever é que as palavras não têm prazo de validade. E sempre vão fazer sentido pra alguém.

3 comentários:

Unknown disse...

Mari, faço minhas as palavras da Fer Mello. Me senti representada (vc entende pq). Bjs

Anônimo disse...

Acho que esse texto é quase um "minutos de sabedoria", sempre vamos lê-lo e sempre vamos nos identificar nele, né amiga!

Anônimo disse...

Aprendi muito