quarta-feira, 26 de dezembro de 2007

...Ainda sobre borboletas...

Sempre tive fascínio por borboletas... Essas flores que voam... Não só pela sua beleza tão despreocupada e pela liberdade... Mas, acima de tudo, elas me cativam por todo o seu processo vital... Quando eu era criança não entendia como uma lagarta (aquele bichinho horrível, rastejante) poderia, um dia, virar uma borboleta...
Só acreditei na metamorfose da lagarta, quando assisti todo o processo. Vi a formação do casulo, a preparação e depois uma borboleta saindo de lá... Acho que, a partir daí, passei a gostar muito mais das borboletas, ou das lagartas, tanto faz. E achava que todas as lagartas deveriam ter a chance de virar borboletas um dia.
Decepcionei-me também quando soube que a vida das borboletas é tão curta... Sei que a maioria delas vive poucos dias, só algumas espécies chegam a viver meses... Então pensava: será que se as lagartas soubessem que após virarem borboletas elas teriam uma vida tão curta, ainda assim iriam se aventurar e passar por essa metamorfose??? Mas também, de que adianta viver anos rastejando e comendo folhinhas??? Se as lagartas não passassem pelo processo de mudança jamais poderiam voar, passear de jardim a jardim e de flor em flor.
Somos muito parecidos com as borboletas... Muita gente escolhe rastejar a vida toda e levar uma vidinha tranqüila, mas sem problemas, sem riscos... Em vez de crescer, aprender e criar asas... É triste saber que a maioria dos momentos bons são efêmeros, assim como a vida das borboletas. Mas não podemos renunciar à felicidade só por que, com certeza, ela não será eterna.
Bom, então eu tô aqui, saindo do meu casulo. Vamos??

quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

...Feliz de doer...

Eu tento. Tento fugir de você. Mas aí eu percebo que não dá. Não adianta. Não consigo fugir de mim. Já que agora você está aqui. Aqui dentro. Mesmo depois da nossa despedida. Daquele dia lindo em que a gente fingiu que namorava. Tomamos sorvete e andamos de mãos dadas, como se não existisse nenhuma dor no mundo. Aí a gente se despediu antes mesmo de começar. Por que eu te disse que tenho a minha vida. Tudo pronto, planejado. E essa nossa história não estava nos meus planos.
A gente se apaixonou. Ninguém tem culpa disso, nem eu, nem você, nem ele. Perdi o controle. Sinto saudades de coisas que a gente nem viveu ainda. Não te conheço direito, mas te amo. É, eu te amo. Pode? Não sei como você dorme, nem se gosta de leite com chocolate de manhã. Eu não sei se você gosta de tirar a casca do pão. Não sei se você é só um sonho. E se a nossa história linda vai desaparecer assim que eu acordar. Não sei nada disso.
Só sei que você me faz rir com os olhos, pra esconder o frio na barriga que eu sinto quando te vejo. Sei que você canta com os olhos fechados e tem covinhas. Sei que você é capaz de algumas loucuras, pra provar que o que a gente sente é real. Sei que você sabe fazer poesia. Sei que você tem cheiro de um dia de céu azul. E que o gosto do seu beijo, é aquele que eu quero ter na minha boca. Gosto de Trident verde. Me fala, do que mais eu preciso saber pra ser sua?
Você me ensinou que eu não sei ser só feliz. Eu não sabia, mas agora sei que o que eu queria mesmo era ser feliz de doer. Precisava ficar louca. Precisava esquecer os limites. Precisava perder o ar, quase morrer de amor. E você também me mostrou que a gente pode conhecer alguém só pelo olhar. Eu te olhei e vi que era você o que faltava. Era você que eu procurava sem saber. E agora não tenho mais escolha. Você já está em mim e eu em você. O que vem pela frente não vai ser fácil. Vai doer. Vai dar medo. Mas eu aprendi, com você, que só é feliz de doer quem paga o preço. E eu pago.

terça-feira, 11 de dezembro de 2007

... eu culpo as borboletas ...

Ninguém sabia. Mas eu estava perdida. Perdida numa vida que não parecia a minha. Perdida numa cidade enorme e cheia de gente. Perdida num apartamento lindo com uma decoração impecável. Perdida no emprego que eu escolhi. Perdida dentro de mim. E dentro dele.
Foi quando você me achou. Você me achou quando nem eu sabia quem eu era. Eu não me encontrava mais no meio do vazio enorme dentro do meu peito. Aí olhei pra você. Olhei pra você e me vi. Vi aquela menina que cresceu sonhando com borboletas no estômago. Era eu! Eu e as borboletas voando dentro de mim.
E você. Me fala, quem é você? Como você conseguiu tirar o chão dos meus pés, assim, só de me olhar? E agora que você olhou pra mim e me achou pode levar. Sou sua. Já. Agora. Mas me leva inteira. Me leva pra qualquer lugar. Pra uma casinha no meio do mato. Pra um carro num beco escuro. Não importa. Só leva o que é teu. E depois me explica. Onde você estava esse tempo todo?
Olhe pra mim e entenda que eu não posso mais ser a mesma. Não dá. Não depois de você. Da sua voz. Não depois de olhar pra você e me encontrar. Ainda não sei direito quem eu sou, quem eu vou ser depois de você. Mas eu gosto. Gosto de mim agora, que tem um pedacinho seu. Acho que era o pedacinho que faltava pra completar toda a minha confusão.
Eu ainda tô aqui. Não sei ir embora antes de você. Vem aqui, me pega pela mão e me leva. Pra qualquer lugar. Me beija e me faz perder o ar. Me faz esquecer de tudo. E me mostra que no final, o que faz essa vida valer a pena são as borboletas.

quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

...auto-retrato...

...Não sou pra todo mundo.
Sou criança. Vivo tendo pesadelos e não durmo depois de filmes de terror. Sou chata e falo demais. Também falo palavrão e muitas vezes falo quando deveria ficar quieta e fico quieta quando deveria falar. Fico magoada muito fácil, mas não conto pra ninguém. Sou orgulhosa. Quando fico nervosa fico gaga. Sou desligada. Estabanada. Não sei dançar e nem mergulhar sem tapar o nariz. Sou preguiçosa e bagunceira. Meio folgada, mas sem intenção. Sou complicada e vivo cheia de minhocas na cabeça. Assisto programas de fofoca na TV e nem tenho vergonha disso. Acho que a vida precisa de um pouco de futilidade de vez em quando. A minha vida, pelo menos, precisa.
Não acho super importante ir à manicure, e minhas mãos às vezes parecem de menino. Pior, quando fico nervosa rôo tudo. Meu rosto não é perfeito, meu cabelo também não. Vivo com ele preso por que cabelo comprido me irrita. Às vezes reclamo do meu corpo, mas continuo sem pisar na academia. Sou super branquela (tá bom, transparente) e detesto ficar torrando no sol pra ter marquinha de biquíni. Tenho calos no pé (mas só no direito). Sou míope e quase nunca estou de óculos.
Choro muito. Mas não sei chorar bonito, enxugando cada lagriminha. Eu choro de verdade, fico fanha, com olheiras, rosto inchado, o nariz vermelho e escorrendo. Aliás, não gosto de gente que tem medo de chorar. Que não consegue abraçar apertado e nem gargalhar bem alto. Não gosto de pessoas que me cumprimentam sem me conhecer, muito menos daquelas que pensam que me conhecem. Desconfio de pessoas que não olham nos olhos ou que conseguem mentir olhando pra eles. Também não dá pra confiar em quem não gosta de crianças e de animais.
Odeio barraco, mas algumas vezes as coisas que eu sinto não cabem dentro de mim. E eu extrapolo. Em público mesmo. Passo de louca algumas vezes, mas dificilmente engulo meus sentimentos. Não entendo de muita coisa. Acho que sentir é muito melhor do que entender. E eu preciso. Preciso sentir. Não sei amar pela metade. Acredito que o amor é a forma mais linda de perder o medo. Mas agora, acho que roubaram minha coragem.
Não aceito injustiça. Odeio gente que tenta passar por cima dos outros. De mim ou de alguém de quem eu gosto. Às vezes demoro pra perceber. Às vezes erro. Mas quando percebo, boto a boca no trombone mesmo. E nem ligo se sobrar pra mim depois. Mas também posso dizer que sou generosa e sei ser amiga. Também posso ser uma boa companhia pra qualquer programa. Sem muitas frescuras. Não importa o lugar. Prefiro um boteco com pessoas que valham a pena do que uma super festa regada a champanhe.
Gosto de gente. Gente de verdade, transparente.. Gente que perdoa seus defeitos e o fato de estar bem longe da perfeição. Como eu. E quem me quer, ou me quis, me conheceu assim. E sabe que eu vou morrer assim. Ainda bem, por que ser perfeita deve ser um saco.

terça-feira, 4 de dezembro de 2007

... Previsões ...

Ela olhava pra ele e sabia. Mesmo quando acordava ao lado dele numa manhã de domingo com aqueles braços em volta do corpo dela. Se sentia segura naquele momento, mas sabia. Sabia e tinha medo. Tentava controlar, mas não conseguia. Apenas disfarçava.

Ela sempre achou que a felicidade não tinha sido feita pra ela. Muitas vezes não entendia o que sentia. Não sabia onde queria chegar, nem o que esperava dele. Não entendia a estabilidade. Nem a rotina. Era cheia de manias, contradições e loucuras. Tudo era pouco. E assim, a felicidade não a alcançava.

Ela queria viver um amor sem rótulos. Sem limites. Queria perder o ar. Se sentir especial e única. O tempo todo. Mas ela também sabia que a vida só era assim no cinema.

E não falava do futuro. Não queria fazer planos. Tinha medo. Por que quando pensava no futuro ela sabia. Sabia e a insegurança tomava conta dela.

Então ela olhava pra ele. Lindo. Ele segurava seu rosto, dizia que a amava e novamente sabia. Ela sabia que era ele que a faria sofrer. Muito. Era só questão de tempo. Mas ela estava ciente do risco. E não queria deixar de ver o filme só por achar que conhecia o final.

quinta-feira, 29 de novembro de 2007

...Não podia ser só insônia...

Algumas noites são longas. Difíceis. Parecem aqueles dias sem cor. Cinzentos e gelados. A casa fica vazia, silenciosa e as paredes frias. E a gente começa a ver e sentir coisas estranhas. É mais complexo que insônia. Tem alguma coisinha bem complicada que me tira o sono. Não sei o que é. Mas está lá.

Então penso em escrever. Quero escrever todas as histórias bonitas que eu não vivi. Escrever o que eu amo. O que eu odeio. Escrever tudo aquilo que me faz querer fugir. E me salvar. Criar asas e ir pra um mundo novo. É isso. Preciso escrever. Sentir o impossível. E é nessa hora, quando tento fechar os olhos e voar que eu me lembro. Lembro daquela coisinha. Uma coisinha complicada que não me deixa dormir e prende meus pés no chão. Nesse chão frio. Penso mais um pouco. Ligo o som porque o silencio me incomoda agora. Olho em volta. Minhas roupas jogadas no chão, tudo fora do lugar, caixas cheias de passado, livros e papéis, muitos papéis. Reviro tudo. Ta lá. Uma folha de papel escrita a lápis. Letras miúdas. Letras que me dizem muito. Achei o que eu procurava.

Naquele papel, estavam três palavrinhas que contam a minha história. O nome do meu livro. Só eu sei. Talvez eu e mais alguém.

Agora posso dormir.

quarta-feira, 14 de novembro de 2007

...A caixa....

E o tempo passou. Ventou muito e tudo aquilo que a gente passou voou pra longe. Depois das tempestades, os dias começaram a ficar mais calmos. A gente não é mais a gente, mas eu continuo sendo eu, e você continua sendo você. Maravilha. Era o que a gente precisava. Todo mundo no seu devido lugar. Só que não existe vento nem tempestade capaz de fazer a gente esquecer. Tá tudo lá longe, ninguém sofre mais... Agora, esquecer?? Impossível.

E bem no fundo do meu armário tem uma caixa. E é lá que está a nossa história, bem guardada. É uma caixa especial, preciso dizer. Lá dentro cabem todos os nossos cheiros e gostos. Cabem sensações também. Além das cartas, fotos e das nossas cores. Não é sempre que eu vou pra lá. Tem que ter cuidado pra abrir a caixa. Ela é frágil. E se eu estiver também, posso ter vontade de jogar tudo fora.

Mas não posso, por que é lá que eu busco inspiração naqueles dias sem cor, sem gosto e sem cheiro. É pra lá que eu vou quando eu passo por alguma decepçãozinha nova, ou quando quero acreditar que aquele turbilhão de emoções que veio junto com você, vai voltar pra mim com outro alguém. Assim, de surpresa.

Quando eu não me encontro e as palavras ficam vagando soltas na minha cabeça é só pegar a caixa mágica olhar e sentir alguma das coisas que tem lá dentro. Sempre dá certo. Lá dentro tem milhares de textos sobre nós que ainda não foram escritos. Sobre mim, sobre você, sobre o mundo. Lá dentro tem uma saudade de tudo que a gente ainda não viveu e não fez. Não é brincadeira não. E também não é pra qualquer um. Mágica não é pra qualquer um. É só pra quem consegue enxergar além do que se vê. Pra quem sabe que o que importa é o que carregamos dentro da gente. E que sentir é muito melhor do que entender.

... dois anos e o amor de duas vidas...

Quando eu te vi, aquele dia, pela primeira vez, não sei dizer como me senti. Por algum tempo me lembrava do medo. Do frio na barriga que me deu quando ouvi a sua voz, e as notas do seu violão. Tive medo por que sabia que o que quer que estivesse sentindo, eu não podia. Naquele momento não podia. É bem verdade que eu nunca tinha sentido nada parecido, o que tornou tudo mais difícil ainda de lidar. Naquele minuto, quando te vi, ouvi a sua voz, acho que entendi. Eu entendi que era sua. E sabia que, a partir dali, teria problemas, por que você também era meu. Não estávamos preparados para amar assim, sem limites. Daquele jeito. Esquisito, intenso e incondicional (lembra?). Vai ver até o amor precisa de limites.

Eu fugi. Tentei o quanto pude. Sei que você também. Mas acho que a gente, numa sintonia difícil de acreditar, fugiu em momentos diferentes. Primeiro eu, depois você. Mas alguma coisa não deixou a gente desistir. Então seguimos em frente e encaramos aquela confusão que tomava conta da gente. Não tem problema confessar que o medo aumentou nesse momento. Por que foi aí que entendemos que tínhamos muitos obstáculos. Não era coisa pouca não. Mas o frio na barriga, o beijo melhor do mundo, a felicidade que doía e as flores colhidas no jardim faziam valer a pena. A gente valia a pena.

Depois aconteceu quase de tudo. Amor, lágrimas, brigas, saudade, separação e amizade... Nos apoiamos diante da dor, do medo, da morte e também dos problemas mais comuns da vida. Acho que isso criou entre nós uma cumplicidade que transcende, que ultrapassa os limites desse mundo. Não dá para explicar. É coisa de sentir. E agora, quando estamos em silêncio, secretamente sabemos. Sabemos que estamos ligados, mesmo quando parece que está tudo tão longe. Não precisamos dizer nada, provar nada. Simplesmente sabemos. E isso só importa a nós dois. Somos a prova de que em dois anos pode caber o maior amor de uma vida. Das nossas vidas pelo menos.

... E quando a gente não sente nada?? ...

Desde criança nunca gostei de competir. Fugia das aulas de educação física e me assustava vendo o quanto era importante ganhar para algumas pessoas, ou mesmo o quanto gostavam de ver os outros perderem. É verdade, perder é ruim pra caramba. Mas ver os outros perderem nunca vai ser bom pra mim como eu sei que é pra muitas pessoas que torcem por fracassos meus. E eu admito. Me falta estratégia. Me falta malandragem. E me sobram machucados, de tanto cair por não saber fingir. Ou mesmo fechar a guarda de vez em quando pra lidar com tanta gente pequena.

A gente precisa aprender a jogar pra sobreviver. Viver em sociedade. Vai ver por isso ultimamente é mais fácil ser eu mesma em casa sozinha com o meu cachorro. Falo o que quero, a gente se diverte e se ele não concorda comigo late e fica longe, depois volta abanando o rabinho. Sem fingimento.

Parece que uma parte de mim está agonizando. Aquela menina que não conseguia fingir sofreu uma parada cardíaca de tanto sentir coisas que não cabiam dentro dela. E a equipe técnica nem tem desfibrilador.

Quando a gente sofre, tudo o que mais espera é a chegada desse momento. Aquele em que a gente começa a enxergar as coisas mais claramente e toma um tapa na cara da realidade. Aí, pára de acreditar. Pára de esperar que as coisas aconteçam. Pára de fingir que está tudo bem. Mas e aí? E quando tudo passa? Não existe mais o amor. Nem raiva, nem ódio, nem mágoa, nem tristeza... Parece que as coisas perdem a graça.

Podem me chamar de louca, mas eu preciso. Preciso sentir. Qualquer coisa, dor, amor, saudade. Uma tristezinha que seja. Estranho sentir esse momento. Não saber se consigo ser eu sem sentir nada. Lembro que passei muito tempo assim. Não sentia nada e tinha medo. Aí, de repente mudou tudo. O que eu menos acreditava aconteceu. E quando eu perdi o medo de sentir, comecei a entender porque tinha medo antes.

Agora o que me assusta é não sentir. Por que sei que desistir de tudo e não sentir nada é tão difícil pra mim, que eu só consigo fazer uma vez.