quarta-feira, 30 de julho de 2008

... a bagunça e o espelho...

Eu voltei pra casa dos meus pais, depois de sete anos morando fora. Precisava de colo, limites, grana, enfim... voltei. E meu irmão casou, saiu de casa pela primeira vez. Então virei a filha única. Com dois quartos. Um deles virou closet. O do meu irmão. O outro ganhou uma parede pink, TV, DVD, som, um mural com mil fotos e uma tela cheia de frases escritas pelos amigos que eu mais amo. O closet ficou bagunçado. Cheio de coisas que não cabiam ali, nem em lugar nenhum perto de mim. Eu evitava entrar naquele quarto que também era meu. Não queria encarar aquela bagunça assim, de frente. Resolvi respeitar o meu tempo. E aos poucos, fui jogando fora o que conseguia. Mas era muito pouco.

Lá no closet, estava um espelho lindo e grande que eu trouxe da minha antiga casa. Ele estava lá, perdido no meio de um monte de tralhas. Um dia meu irmão disse que queria o espelho pra ele. Minha mãe disse que tudo bem, afinal eu nem ligava praquele espelho. Nossa, fiquei muito brava. Muito mesmo. Tudo aquilo lá era meu e se eu ainda não tinha arrumado era por que, talvez, não estivesse preparada. Não sei explicar como, mas o meu irmão me entendeu. Estranho, por que isso é difícil de acontecer. Mas nesse dia ele me entendeu. E decidiu tomar uma atitude contra esse meu medo de encarar a bagunça que estava naquele closet. E na minha vida também.

Um sábado de manhã ele apareceu. Me acordou. Estava com uma furadeira na mão. “Vamos arrumar aquele closet agora. Vamos tirar toda aquela bagunça de lá e eu vou pendurar o seu espelho”. Eu ri. E fui. Tirei essa manhã pra arrumar tudo e ele me ajudou... Revi fotos, papéis, livros, CDs e toda a minha bagunça que estava lá, escondida. Vi o passado passando por mim em palavras, cheiros, roupas, várias coisas... Parece que tudo virou lembrança. Inofensivas lembranças, mesmo o que já foi ruim. E eu descobri que não tenho medo de bagunça. Nem de começar de novo. Mais uma vez.

Joguei muita coisa fora. Não vou mentir dizendo que foi fácil. Não foi não. Queria manter algumas dessas coisas guardadas. Mas não entendia por que. Aí ele me perguntava: por que exatamente você quer guardar isso? Se eu não tinha explicação, ia pro lixo. Dei várias calças jeans. Muitos sapatos. Encaixotei fotos, cartas. Nesse meio tempo encaixotei também antigos sentimentos e encontrei espaço para os novos. O espelho agora está no lugar dele. Onde eu possa me enxergar. Sem nada pra atrapalhar a minha visão de mim mesma. E eu vi. Meu coração já andou muito, se esborrachou e quebrou em mil pedacinhos. Ficaram alguns arranhões, é verdade. Mas ele é grande. E - mesmo que eu não entenda como - ele ainda tem coragem suficiente pra deixar alguém entrar...

quinta-feira, 24 de julho de 2008

... o primeiro ...

É o seguinte: eu sou uma otimista. Às vezes faço pose de forte, indiferente, de descrente. Mas eu acredito. Acredito na surpresa. Acredito que o Universo tem um jeito estranho de impedir que a gente pare de acreditar. E é sempre assim, quando a gente acha que desistiu, ele se manifesta. O Universo. E a surpresa. Não adianta, é a vida. A gente cai, se machuca, chora e esbraveja. Aí cansa, desiste. Pensa que tá tudo comum demais pra você. Pessoas iguais que cometem erros iguais. Até que um dia, surpresa! Muda tudo. É como se o Universo te escutasse dizendo “ai que saco, não agüento mais”. Bem naquela hora que você já tinha se acostumado com a mesmice.

E a gente se acostuma tanto que não vê coisas que estão ao nosso lado. Comigo foi assim. Ele estava ali faz tempo. Mas por alguma razão estranha eu não tinha percebido. Não sei se faltava o alinhamento correto dos planetas, como ele diz. Ou se faltava aquele momento onde a gente vê as coisas com clareza, aquele estalo. Enfim... Não dá pra entender como ele podia estar lá e eu não ter visto. Porque ele não tem medo de mim. Não interpreta errado as minhas frases bobas. Me entende e acredita. Não gosta de nada mais ou menos. Gosta de rock, bares e cerveja. Ele gosta de praia, trilhas, palavras simples e meninas complexas. É viciado em café e em comprar CDs. E, além de tudo, tem cheiro de perfume italiano. Tudo bem que não tem chocolate na casa dele. Nem fogão. Dá pra acreditar numa casa sem fogão? Mas tudo bem. Ele me sentiu. Sim, é isso mesmo. SENTIU. Me chamou de linda, criticou minhas unhas de menino e me fez querer ser mulherzinha. A ponto de achar lindo ele abrir a porta do carro. Como assim? Justo eu???

Eu sei que as coisas nem sempre dão certo, mas a gente tem que ousar e desafiar a razão. A verdade é que eu tô aqui pra sentir. Então, dane-se a razão. O que eu sinto agora é que quero estar com ele. Agora. Depois?? Deixa o Universo decidir.

quinta-feira, 3 de julho de 2008

.... o caderninho preto ....

Escrever sempre foi uma necessidade básica pra mim. Questão de sobrevivência mesmo. Todas as vezes que o que eu sentia não cabia em mim, eu recorria aos meus caderninhos. Centenas de desabafos estão por aí. Divididos entre meus caderninhos coloridos. Hoje encontrei um de capa preta. Senti uma coisa estranha quando o vi. E lembrei que ali dentro estavam pedacinhos soltos de uma fase muito difícil. Dolorida. Ali estavam palavras que descreviam momentos em que eu não me reconhecia. Eu fui injusta. Falei demais. Fui egoísta. Não vi que não era só pra mim que as coisas estavam complicadas. Não era só eu que estava passando por uma fase de transição.

Li tudo de novo. E pensei no efeito que aquelas palavras, na maioria das vezes escritas em momentos de total confusão, possam ter causado na cabeça dele. Ao longo do tempo aprendi que temos que tomar muito cuidado com as palavras. Principalmente quando escrevemos. Por que aquilo que está escrito, está documentado. E pode ser lido sempre. As palavras têm poder. Imagina só quando as palavras são ruins. O efeito pode ser devastador. Não deve ter sido fácil pra ele conviver por longos meses com essas páginas. Um tempo atrás, sem pensar muito, pedi o caderninho de volta. E deixei lá um outro caderninho. De capa vermelha. Onde estavam nossos melhores momentos. Palavras que eu escrevi sorrindo. Foi uma coisa meio inconsciente. E eu entendi que, uma hora ou outra, o meu coração acerta o passo sozinho. Sem ouvir minha cabeça de melão.

Lendo o caderninho preto eu vi que aquelas palavras tinham que ficar no passado. Aquelas palavras soaram pra mim como uma lição de intolerância. E de descontrole. Eu estava fora de mim quando escrevia. Não foi legal entender que eu acabei levando mais problemas para alguém que já tinha os seus. E olha que os problemas dele não eram coisa pouca não. Eram problemas de verdade. Dores de verdade. Mas o lado bom disso tudo é que eu entendo agora coisas que não conseguia entender antes. Eu podia sim ter sido melhor. Mas não fui. Não foi de propósito. Eu não estava preparada. Não entendia o que estava acontecendo comigo. Não sabia como agir diante do turbilhão de sentimentos que tomava conta de mim. E dele. Então eu me perdôo sim. Me perdôo por que aqueles erros fizeram de mim quem eu sou hoje. E eu tenho certeza. Depois de fazer um monte de coisas que eu não entendia, eu passei a saber quem eu sou. Agora eu sei quem eu sou. E aquela lá que escrevia coisas nada agradáveis no caderno preto não sou eu.

E em mim não cabe mais aquele caderno. Ele ficava sozinho no meio de um monte de outros cadernos coloridos que eu adoro ler. Então, eu li mais uma vez. Pra garantir que tinha tirado todas as lições possíveis daquelas páginas doídas. Aí arranquei página por página. Piquei todas elas. Joguei os pedacinhos no lixo. Encapei o caderno com contact. E foi assim que o meu único caderninho preto nasceu de novo. Agora ele é colorido. E cheio de folhas em branco.

terça-feira, 1 de julho de 2008

... e tudo anda assim, tão complicado....

Sabe qual é a verdade? Quem complica a vida somos nós. Tornamos tudo mais difícil por que temos medo da felicidade. Taí, na nossa cara. Em várias histórias. No amor, no trabalho, na família. Tudo complicado. A gente se desencontra. Corre. Se esconde. Fugimos da felicidade por que ela é boa demais. Mas não dura pra sempre. E o medo do fim paralisa.

Eu ainda acredito. Acredito na felicidade. Acredito que a vida vale a pena. E acho que o que faz valer a pena é tão simples que a gente finge que não vê por querermos intensidade em tudo.

Não é suficiente ter saúde, é preciso ser perfeito. Não adianta ter um sapinho bem do interessante. A gente procura o príncipe, que se existisse, assim, igualzinho àquele dos contos de fadas, seria insuportavelmente chato e sem-graça. De que adianta o emprego estável se não é aquele que a gente sonhou?

Mas que fique bem claro, odeio comodismo, conformismo. Gente que se encosta, se acomoda e nunca mais sai de lá. Não acho que basta se contentar com o que se tem e ser feliz. Mas eu acredito que alcança a felicidade aquele que entende suas limitações e não estipula metas impossíveis para aquele momento. Por que o impossível de hoje, pode simplesmente se tornar possível amanhã.

A regra é não forçar a barra. Cada um tem de achar o seu jeito. A sua fórmula. Ninguém é feliz igual. Não existem padrões ou clichês para a felicidade. Você pode casar ou não. Namorar ou não. Ter filhos ou não. Escolher a profissão certa pra você. Ou não. Dá pra ser feliz mesmo assim. Mas não o tempo todo. Por que existem imprevistos. A gente perde. Perde coisas. Perde pessoas. E ninguém gosta de perder. Dói.

Também não dá pra abrir os olhos e encontrar a felicidade lá. Em cima da mesa posta pro café da manhã. A gente não sabe onde ela está. Mas assim, de repente, ela aparece. Ela pode estar onde a gente menos imagina. Pode não ser aquele furacão de sensações, mas pode dar uma paz incrível. Ela pode estar na sala da sua casa, naquele sofá que você ama. No tapete felpudo. Na parede pink do quarto. Numa cervejinha gelada. Num telefonema inesperado. Naquela conversa de horas e horas e horas. Num amor antigo. Nos seus amigos. Numa palavra bonita. Na sua música. Num dia de céu azul. Numa lua cheia. Num beijo bom. Numa gargalhada.

Ser feliz vicia. Mas só é tão bom por que acaba. Pra depois começar de novo. É bom por que a gente sabe que não é feliz. A gente sabe que está feliz. Simples assim.