Eu voltei pra casa dos meus pais, depois de sete anos morando fora. Precisava de colo, limites, grana, enfim... voltei. E meu irmão casou, saiu de casa pela primeira vez. Então virei a filha única. Com dois quartos. Um deles virou closet. O do meu irmão. O outro ganhou uma parede pink, TV, DVD, som, um mural com mil fotos e uma tela cheia de frases escritas pelos amigos que eu mais amo. O closet ficou bagunçado. Cheio de coisas que não cabiam ali, nem em lugar nenhum perto de mim. Eu evitava entrar naquele quarto que também era meu. Não queria encarar aquela bagunça assim, de frente. Resolvi respeitar o meu tempo. E aos poucos, fui jogando fora o que conseguia. Mas era muito pouco.
Lá no closet, estava um espelho lindo e grande que eu trouxe da minha antiga casa. Ele estava lá, perdido no meio de um monte de tralhas. Um dia meu irmão disse que queria o espelho pra ele. Minha mãe disse que tudo bem, afinal eu nem ligava praquele espelho. Nossa, fiquei muito brava. Muito mesmo. Tudo aquilo lá era meu e se eu ainda não tinha arrumado era por que, talvez, não estivesse preparada. Não sei explicar como, mas o meu irmão me entendeu. Estranho, por que isso é difícil de acontecer. Mas nesse dia ele me entendeu. E decidiu tomar uma atitude contra esse meu medo de encarar a bagunça que estava naquele closet. E na minha vida também.
Um sábado de manhã ele apareceu. Me acordou. Estava com uma furadeira na mão. “Vamos arrumar aquele closet agora. Vamos tirar toda aquela bagunça de lá e eu vou pendurar o seu espelho”. Eu ri. E fui. Tirei essa manhã pra arrumar tudo e ele me ajudou... Revi fotos, papéis, livros, CDs e toda a minha bagunça que estava lá, escondida. Vi o passado passando por mim em palavras, cheiros, roupas, várias coisas... Parece que tudo virou lembrança. Inofensivas lembranças, mesmo o que já foi ruim. E eu descobri que não tenho medo de bagunça. Nem de começar de novo. Mais uma vez.
Joguei muita coisa fora. Não vou mentir dizendo que foi fácil. Não foi não. Queria manter algumas dessas coisas guardadas. Mas não entendia por que. Aí ele me perguntava: por que exatamente você quer guardar isso? Se eu não tinha explicação, ia pro lixo. Dei várias calças jeans. Muitos sapatos. Encaixotei fotos, cartas. Nesse meio tempo encaixotei também antigos sentimentos e encontrei espaço para os novos. O espelho agora está no lugar dele. Onde eu possa me enxergar. Sem nada pra atrapalhar a minha visão de mim mesma. E eu vi. Meu coração já andou muito, se esborrachou e quebrou em mil pedacinhos. Ficaram alguns arranhões, é verdade. Mas ele é grande. E - mesmo que eu não entenda como - ele ainda tem coragem suficiente pra deixar alguém entrar...
Lá no closet, estava um espelho lindo e grande que eu trouxe da minha antiga casa. Ele estava lá, perdido no meio de um monte de tralhas. Um dia meu irmão disse que queria o espelho pra ele. Minha mãe disse que tudo bem, afinal eu nem ligava praquele espelho. Nossa, fiquei muito brava. Muito mesmo. Tudo aquilo lá era meu e se eu ainda não tinha arrumado era por que, talvez, não estivesse preparada. Não sei explicar como, mas o meu irmão me entendeu. Estranho, por que isso é difícil de acontecer. Mas nesse dia ele me entendeu. E decidiu tomar uma atitude contra esse meu medo de encarar a bagunça que estava naquele closet. E na minha vida também.
Um sábado de manhã ele apareceu. Me acordou. Estava com uma furadeira na mão. “Vamos arrumar aquele closet agora. Vamos tirar toda aquela bagunça de lá e eu vou pendurar o seu espelho”. Eu ri. E fui. Tirei essa manhã pra arrumar tudo e ele me ajudou... Revi fotos, papéis, livros, CDs e toda a minha bagunça que estava lá, escondida. Vi o passado passando por mim em palavras, cheiros, roupas, várias coisas... Parece que tudo virou lembrança. Inofensivas lembranças, mesmo o que já foi ruim. E eu descobri que não tenho medo de bagunça. Nem de começar de novo. Mais uma vez.
Joguei muita coisa fora. Não vou mentir dizendo que foi fácil. Não foi não. Queria manter algumas dessas coisas guardadas. Mas não entendia por que. Aí ele me perguntava: por que exatamente você quer guardar isso? Se eu não tinha explicação, ia pro lixo. Dei várias calças jeans. Muitos sapatos. Encaixotei fotos, cartas. Nesse meio tempo encaixotei também antigos sentimentos e encontrei espaço para os novos. O espelho agora está no lugar dele. Onde eu possa me enxergar. Sem nada pra atrapalhar a minha visão de mim mesma. E eu vi. Meu coração já andou muito, se esborrachou e quebrou em mil pedacinhos. Ficaram alguns arranhões, é verdade. Mas ele é grande. E - mesmo que eu não entenda como - ele ainda tem coragem suficiente pra deixar alguém entrar...