Eu não entendo mais esse mundo. Essas pessoas. Tá tudo muito diferente, assustador e essa sensação de impotência me dói. Não parece que eu e tantas pessoas legais que eu conheço nascemos num mundo onde homens estupram crianças em ônibus públicos, onde uma madrasta e uma vó matam uma menina de tanto correr por ter comido uma barra de chocolate, pais matam filhos, filhos matam pais, babás batem em bebês, enfermeiras espancam idosos, playboys colocam fogo em mendigos e animais são vítimas das maiores crueldades imagináveis.
Enquanto isso, nesse mesmo mundo, mulheres se vangloriam por golpes do baú bem sucedidos, outras ganham a vida com nome de fruta, ladrões deitam a cabeça tranquila em travesseiros feitos com pena de ganso e o Michel Teló faz turnê na Europa e ainda canta música da Adele.
Ultimamente tenho ficado com medo das pessoas. Elas mentem, machucam e são totalmente imprevisíveis. Quando parece que a gente já viu de tudo, acontece uma coisa tão absurda que prova que ainda é possível se chocar. Acho normal ficar triste com as dores do mundo e dos outros. Pelo menos pra mim é. Mas tudo isso também me faz pensar na fragilidade da nossa vida. Um dia posso simplesmente estar na hora errada, no lugar errado. Mas mesmo triste não consigo desistir. Porque ainda tem muita coisa que vale a pena. Porque eu não sei o que me espera. E eu ainda sonho com um mundo mais calmo, colorido, com mais gente boa e gentileza. Talvez este mundo não seja aqui. Pode está escondido além do arco-íris ou na toca de um coelho.
Aqui, no mundo real, nos basta viver. Valorizar os momentos de felicidade, as almas boas, a experiência dos mais velhos, a pureza das crianças e o amor dos animais. Respirar fundo. Soltar o ar bem devagar, com calma. Lembrar que tudo vai passar. A dor de cabeça. O cansaço. A desesperança.