quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

... terapia de papel...

Abandonei a terapia. Assim, na cara de pau. Sumi do mapa. Minha psicóloga deve ter confirmado suas suspeitas de que eu sou meio maluca mesmo. Na verdade não sei o que me deu. Acho que tenho preguiça de esperar resultados. Quero tudo na hora. Sou ansiosa.
Meus dias nunca são iguais. Eu nunca sou igual. Às vezes me espanto com uma insegurança que me pega desprevenida. Dá trabalho. Por que não gosto de me sentir fraca. Não gosto de não gostar de mim. E não gosto de me expor. E nesses momentos, toma conta de mim uma menina insegura com tudo, com a imagem, com os sentimentos dos outros, que quer sempre agradar e não consegue dizer não.
E aí parece que fica faltando alguma coisa na minha vida. Sabe aquela história de buscar a sua cara-metade? Alguém que te complete para que juntos se tornem um só? Então, minha cara metade sou eu. E acho que ela tá escondida em algum canto difícil de enxergar. E eu me quero inteira e quero que ele esteja inteiro pra mim. Por que no amor, não existe metade.
Ah, a terapia. Com tantos conflitos internos uma coisa que talvez eu realmente não deveria ter feito é largado a terapia. Mas não adianta. Minha terapia é aqui. Comigo. Com o meu caderno e uma caneta. Às vezes escrevo azul, às vezes preto, às vezes com lápis pra apagar depois ou com canetinhas hidrocor. E é assim que funciona. Terapia de papel. Agora me dá licença que eu vou deitar no meu divã, cheio de palavras e sílabas soltas.

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

Ela era tão linda que não parecia de verdade. Tinha os cabelos escuros e lisos, olhos verdes muito claros, bocona carnuda e um corpo escultural. Parecia saída da capa de uma revista. Quando a olhei pela primeira vez fiquei meio intimidada. Com um pouco de ciúme e medo de que, ali, ao lado dela, ele nem me notasse mais. E confesso que tive um certo preconceito. Fiquei buscando defeitos. Como não achei, comecei a pensar: ah, deve ser burra. Ou chata. Começamos a conversar e... a desgraçada ainda era extremamente simpática. Gostei dela. E foi aí que comecei a notar um quê de tristeza naquela menina. Taí, ela era triste. Colocava uma roupa arrasa quarteirão, estampava um sorriso na bocona, mas seus olhos estavam tristes.

A menina, que tem 22 anos, me contou que havia feito onze cirurgias plásticas. Que malhava três horas por dia. Não comia carboidratos a noite. Tudo bem, a beleza tem um preço. Mas sabe o que me assustou? Ela não estava feliz consigo mesma. Achava defeitos no corpão, no rosto, no cabelo e vivia procurando novas técnicas na medicina estética pra corrigir todos os defeitinhos, que ela insistia em encontrar. Não tem como não ser triste vivendo desse jeito. Não tem como não ficar triste buscando uma perfeição que definitivamente não existe. Por que a verdade é que não existe unanimidade. E que padrões de beleza só servem pra deixar as pessoas loucas e inseguras.
Ela se esculpiu. Ficou linda. Mas falta alguma coisa que ela não sabe o que é. Ficou dentro dela um vazio difícil de entender. Por que não existe lipo pro coração. Nem pra alma.

E foi aí, bem nesse momento, que eu me senti linda. Linda e confiante. Não, eu não tenho aquele corpão, não tenho aqueles olhos, não tenho nada daquilo. Eu tenho quadril largo, uso calça 42, tenho sardas só na bochecha e no nariz, um cabelo que sempre me irrita, unhas que parecem de menino, e três tatuagens. Nunca fiz lipo, não piso na academia, adoro cerveja e como tudo o que me dá vontade. Falo palavrão de vez em quando, não sei me sentar como uma dama e gosto de rir bem alto. Mas eu sou eu. Única. E ali, ao lado de uma mulher perfeita, eu me senti linda. No meio de toda a minha imperfeição.

Eu pensei que quando eu me olho no espelho não vejo só o meu corpo. Eu me reconheço. Me conheço. Me gosto. E eu sei que tem gente que gosta de mim assim, desse jeito. Sem tirar nada. Não preciso me matar de malhar, sofrer numa mesa de operação pra me sentir linda. Eu só preciso me sentir. E entender que a minha beleza também existe onde não se pode ver. E sabe de uma coisa? Ele viu.

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

... pega na mentira ...

O tempo vai passando. E a gente aprende que todo mundo mente. Até que se prove o contrário. Desde crianças ouvimos que a verdade é sempre a melhor solução, que dizer a verdade nos liberta, enfim, mil coisas. Mas o fato é: mentir é uma necessidade. Nós mentimos pra nós mesmos por que a verdade geralmente dói demais.

Lá no fundo, talvez ninguém queira ouvir. Às vezes dizemos a verdade por que a verdade é tudo o que temos pra dar. Às vezes dizemos a verdade por que a gente precisa gritar bem alto pra ela chegar aos nossos próprios ouvidos. E aqui está a verdade sobre a verdade: machuca. Então a gente mente.

Eu menti pra você. Menti quando disse que estava tudo bem. Menti quando disse que não me importo mais. Menti quando tentei procurar você em outros beijos. Menti quando disse que não sinto ciúme. Menti quando você me disse que estava confuso e eu respondi que sabia exatamente o que queria. Não, eu não sei. Eu achava que sabia, mas não sei. Eu menti também quando te disse, que ao contrário de você, eu não tenho medo. É mentira. Eu estou apavorada.

Ta bom. Eu me entrego. Sou uma impostora. O que vocês todos estão vendo aqui não é exatamente real. Pra falar a verdade, acho que tudo é mentira nesse mundo. Eu minto pra me sentir mais forte. Pra mostrar que eu sou super bem resolvida e não ligo mais pra todas aquelas baboseiras românticas. Eu minto. Ninguém acredita. Nem eu. Nem você.