quinta-feira, 25 de junho de 2009

Foto: http://www.dinagoldstein.com/

Logo que aprendi a ler ganhei minha primeira coleção de livros. Eram todos coloridos, cheios de detalhes e desenhos elaborados. Tinha a história da cachinhos dourados, Rapunzel, Cinderela, Branca de Neve, Bela Adormecida... Eu lia e acreditava em finais felizes. Mas não entendia porque era tão difícil. Elas eram lindas, loiras, cantavam bem e sofriam o tempo todo, até a última página.
Mas os finais... Eu adorava. Não sabia nada sobre o amor, mas achava que, com certeza, devia ser alguma coisa mágica. E que ele só chegava para os puros de coração. Assim como aquelas princesas. Todas puras, altruístas, doces e perfeitas.
Aí eu cresci. Li vários outros livros e conheci muitas histórias. O tempo foi passando e, mesmo depois de muitas desilusões e tapas na cara da realidade, eu tive a certeza que achei estar perdida lá na minha infância. O amor é realmente mágico. Afinal, eu não tenho a pureza das princesas. Não sou doce. Muito menos perfeita. Eu fujo, faço mil besteiras e mesmo sem esperar o amor me encontra.
Assim como eu, as princesas de hoje tropeçam, caem, se machucam e prometem nunca mais se apaixonar. As princesas de hoje não acreditam mais em contos de fadas. Elas não querem mais encontrar um príncipe, nem chegar de carruagem na igreja, casar e viver feliz pra sempre. Elas não têm só uma história pra contar. Têm várias. Muitas pessoas, amigos, amores. As princesas de hoje têm que trabalhar. Se cuidar. Ninguém nasce com os lábios rubros como a rosa, cabelos lisos, loiros e escovados, pele fina como a de um bebê e um corpo naturalmente perfeito. Temos que fazer academia, dieta, limpeza de pele, cortar os cabelos, usar maquiagem...
E como não existe maquiagem para o coração, as princesas de hoje carregam muitas cicatrizes. É verdade que estes machucados as fizeram fortes. Elas aprendem a usar escudos, espadas e se colocam numa torre sem a imposição de uma bruxa. Elas estão lá por vontade própria, ou por cansaço talvez. Ou ainda por falta de espaço para novas cicatrizes. Mas no fundo, bem lá no fundo, elas esperam um resgate. Não do príncipe. Elas querem de volta aquela menina que acreditava na pureza e na magia do amor. Aquela menina que está perdida em algum lugar dentro delas.
Muitos anos depois de ter conhecido os contos de fadas, eu ainda não sei muito sobre o amor. Acredito que não exista definição para ele, muito menos explicação. E não é que quando eu achava que tinha perdido a capacidade de sentir, de acreditar em histórias românticas e finais felizes, me peguei escolhendo fotos de bolos de casamento? Isso só pode ser mágica!

segunda-feira, 22 de junho de 2009

... aqui é a vida real...

Em alguns momentos a gente percebe que vida real mete mais medo do que qualquer filme de terror (essa metáfora vale para mim, é lógico, que tenho medo de qualquer filminho). Assusta mesmo. Mas demora pouco até percebermos o quanto um susto pode ser bom na vida da gente. O quanto uma mudança repentina pode trazer coisas boas. Coisas novas. O quanto é bom errar. Não ser perfeita. Não ser o as pessoas esperam de você. Não poder prever as coisas.
Eu sou desorganizada. Gastona. Não sou apegada a dinheiro, mas eu sei que preciso dele. Gosto de ajudar os outros mesmo quando não consigo ajudar a mim mesma. Por isso, nos últimos anos, perdi muita coisa neste sentido. Tenho 30 anos e não tenho nada que seja meu. Não tenho casa, terreno, carro. Nada. Mas eu tenho muita sorte. Muita mesmo. Sempre que tenho medo, vem alguém e me salva. Mesmo que esse alguém seja eu mesma. Daí eu vejo que as coisas sempre estão melhores do que eu tinha visto.
Me deixa feliz saber que agora estou mais perto das pessoas que eu amo e que estão do meu lado SEMPRE. Aconteça o que acontecer. Não tenho casa com piscina, lareira, carro pra dar carona, dinheiro sobrando pra pagar baladinhas pros amigos. Mas, mesmo assim, algumas pessoas estão sempre comigo. A gente marca na conta.
Posso contar com você. Na nossa conta, eu te devo muito. Material e espiritualmente. Eu sei. E como. Preciso aprender a agradecer de todas as formas que você merece. Obrigada por ser meu. Por ser perfeito pra mim. Quero ser assim também, tudo o que você quer. Perfeita pra você, no meio de toda a minha imperfeição. No meio de toda a minha confusão e dos meus erros. Sei que me importo com bobagens. Sei que tenho medos injustificáveis. Instabilidades e TPMs insuportáveis. Mas perco o ar cada vez que você fala da “nossa” casa. Do quarto a mais que teremos que ter. Que você não se importa com o fato de que eu não posso ajudar em muitas coisas. E que eu estar aqui é o que importa. Eu estou, aqui, sempre. E você? Será que existe mesmo?

quinta-feira, 18 de junho de 2009

... formação e vocação...


Estou há algum tempo pensando em escrever um texto sobre o assunto. Mas está difícil. Falta vontade, inspiração... Faltam palavras. Ou talvez me falte qualificação. Já que sou apenas uma jornalista com diploma e registro profissional, o que parece um contra-senso em uma terra que tem um presidente-semi-analfabeto. Não é preconceito, existem muitas pessoas que não precisaram de um diploma, ou de qualquer estudo para realmente fazer a diferença. Mas é muito triste investir dinheiro, dias e noites da sua vida por uma qualificação melhor e depois dizerem que não precisava de nada disso.
Gilmar Mendes, que tanto defendeu a derrubada do diploma, comparou jornalistas a cozinheiros. Ele disse que não é preciso fazer faculdade de gastronomia para cozinhar bem e que seria injusto exigir que todo restaurante tivesse um chef de cozinha para funcionar. É óbvio que não existe discussão quanto à qualidade de um restaurante que possui um chef se comparado a outro que não possui. Não consigo entender a comparação, uma vez que lidamos com informações, compromisso com a verdade e não com verduras e legumes.

Gostaria de saber o que Gilmar Mendes, que é um famoso jurista, acharia se disséssemos a ele que qualquer presidiário que tenha cumprido alguns anos de pena, tem condições de ser advogado.

Não sou jornalista apenas por formação. Sou por vocação e realmente acredito que muita coisa se aprende na prática mesmo. Mas é impossível pensar que quatro anos de investimento em educação tenham sido em vão.Também sei que muitos diplomas são apenas pedaços de papel e que a qualidade de ensino nas universidades não é das melhores. Mas, retirar a obrigatoriedade do diploma é o mesmo que aprovar universidades que vendem diplomas. Se, mesmo com a obrigatoriedade de curso superior, existem muitos jornalistas que não sabem a diferença entre artigo e verbo, imagina se não existir mais nenhuma exigência?

Estou desanimada. Sinceramente, em alguns momentos, tenho vontade de largar tudo e vender bijuteria na praia. Mas não acredito no fim da minha profissão. E acredito que algumas empresas, empresários sérios que primam pela qualidade e veracidade das informações, irão pensar nisso na hora de contratar jornalistas. Eu ainda acredito na informação de verdade e com qualidade. Mas, sei lá, eu também acredito nos filmes da Julia Roberts.

segunda-feira, 15 de junho de 2009

... amigos ....

Amigo que só me quer quando eu estou bem e faço tudo certinho não me interessa. Amigo tem que estar do meu lado. Tomar partido. Do jeito que eu sou. E aceitar também o que não é bom em mim. Eu erro. Faço bobagem. Surto e tropeço nos meus próprios pés. Eu não quero ser julgada. Quero colo. Compreensão. E consideração. Por que eu sou assim. Se é pra amar tem que amar tudo. O bom e o ruim do pacote. Meus amigos não são perfeitos. Não sabem tudo e não podem exigir que eu saiba. Amizade não é uma rua de mão única. Vale errar, borrar o papel, apagar com borracha e começar a escrever uma história nova.
Com amigos de verdade acho que a gente não tem muita alternativa. Fomos escolhidos e escolhemos, não importa o que aconteça. Quase igual família, que a gente sabe que não tem jeito e vai ter pra sempre. Alguns amigos são assim, a família que a gente escolheu. Mesmo quando, às vezes, dá vontade de não ter escolhido.
E depois de escolhidos é difícil voltar atrás. A gente ama e ponto. Eu amo mesmo. Faço de tudo para não julgá-los pelos seus erros, assim como espero não ser julgada pelos meus. Mas sofro cada vez que percebo que estão lá, correndo na direção contrária, tendo a certeza de que estão certos.
Lógico que aqui também vale uma regrinha simples. Todo mundo tem o seu limite. Eu tenho, meus amigos também têm. Não tem mal nenhum em dar segunda chance. Mas segundas chances também têm limites. Porque passar dos limites sempre é muito complicado. Cansa demais.
Eu falo. Grito. Uma, duas, três, até quatro vezes. Sou chata mesmo, insistente. E tenho uma mania insuportável de achar que dá pra consertar tudo. E acho que as pessoas precisam ter a certeza de que têm com quem contar. Então aviso mais de mil vezes: olha, eu estou aqui tá?. Quando percebo que não adianta mais falar é difícil. Muito mais pra mim do que pra eles. Não é legal pra uma pessoa como eu que gosta de proximidade, perceber que posso ajudar muito mais estando longe.
Aí eu fico aqui, torcendo e esperando que, depois da cabeçada na parede eles aprendam. E me procurem, porque eu, com certeza, vou estar aqui, esperando, com o ombro pronto e os braços abertos. Afinal, amigo é pra essas coisas.

segunda-feira, 8 de junho de 2009

... o mundo que vale a pena é o nosso...

Às vezes acho mais cabendo no meu quartinho. Não. Não é só o espaço. É que parece que aquele quarto não sou eu. Tantas coisas pra jogar fora. Tantas coisas que não fazem mais parte de mim. E tantas outras coisas que tem que encontrar seu lugar. Eu tenho que encontrar o meu lugar aqui.
A gente sempre toma um susto quando cai a ficha. Quando precisa começar de novo. Começar a vida de novo. Mais uma vez. Se começar de novo. A vida é muito mais do que a gente pensa. Mais do que a gente vê na TV. Mais do que ter independência. Mais do que ter sempre o seu dinheiro pra comprar todas as besteiras que você quiser. Mais do que querer viver sozinha. Sem a ajuda de ninguém. Viver é correr riscos. É um dia estar super bem e outro nem tanto. Viver é um dia precisar voltar atrás. Viver é precisar dos outros.
E eu tenho sorte. Nunca tive vergonha de precisar de ninguém. Eu preciso. Preciso da minha família, preciso dos meus amigos e aprendi a precisar de novo de alguém. Eu preciso do meu namorado. Preciso dele de um jeito que nunca tinha precisado de ninguém. Preciso dele de um jeito delicioso e saudável. Que simplesmente não dói.
Viver é mudar. Eu tenho mudado muito e visto que tem muita gente aqui que precisa de mim. Eu tive a sorte de encontrar, depois de muitas cabeçadas, um cara sensível, inteligente e que faz de tudo pra me entender. Que me respeita e me ajuda a viver apesar da minha síndrome de “Pollyana no País das Maravilhas”.
Ele é leonino, mas não é egocêntrico. E sabe que aqui dentro existem coisas além dele que eu não entendo. Mas o que eu quero que ele saiba é que ele me faz melhor. Ele me dá vontade de mudar. Ele me faz entender o quanto preciso de algumas mudanças. Pra mim e pra ele. Não. Ele não quer que eu seja outra pessoa. Por incrível que pareça ele gosta de mim como eu sou. Mas sabe que algumas coisinhas precisam se organizar dentro de mim. Eu preciso de oxigênio pra respirar melhor. Sozinha e com ele. Eu estou no caminho. Dói às vezes. De tantos jeitos. Mas eu ainda estou aqui.
E mesmo com tantas coisas estranhas se passando pela minha cabeça, tanta culpa sem razão de ser, tanta vontade de abraçar e cuidar de todo mundo, eu sinto uma calma estranha. Uma calma de quem sabe que fez tudo o que pôde, que amou de diversas maneiras e que não teve medo de dar a cara a tapa pra ajudar quem quer que seja. Me fala, que culpa a gente poder ter por gostar sem medida? Só uma. Sinto muito por ter pensado tanto nos outros e ter esquecido de mim mesma.
Algumas pessoas passam por muita coisa. Algumas situações e perdas dóem de matar. É impossível julgar. Por isso, a gente dá um desconto. Deixa lá a pessoa surtar, enlouquecer e ter ódio do mundo um pouco. Esse mundo é muito injusto mesmo. Mas tem aquele momento da escolha.Na minha opinião este momento é aquele que dá pra notar que estamos fazendo mal pra pessoas que gostam da gente e só querem nos ajudar. E este mal que acabamos fazendo quem escolhe é a gente, talvez mesmo sem querer escolher. E essa culpa não é minha. Queria que não fosse dele também. A verdade é que em grande parte somos culpados pela nossa infelicidade. E a culpa vem daquilo de fazemos para os outros. Eu me permito sofrer, por confiar demais, por dividir demais. Dividir a minha vida demais. Contar segredos demais. Eu me perdôo e isso não me faz infeliz.
Já fiz muitas bobagens, que fizeram mal a mim e a muitas pessoas que me amam. A ficha caiu quando comecei a desrespeitar pessoas que me queriam bem, que tinham sentimentos desinteressados. É assim, de repente, eu entendi que ali, no fundo do poço tem uma cordinha sim. E coube a mim decidir se queria subir por ela. Ninguém veio me dizer que era fácil. E olha não foi mesmo nada fácil. Várias vezes parei no meio e achei que deveria voltar lá embaixo e simplesmente ficar sentada lá, como uma vítima do mundo. Mas eu subi. Tô aqui em cima de novo. Ainda olho pra baixo, é verdade, algumas pessoas ficaram por lá. Mas eu sou uma só. E estou cansada de puxar a corda e nunca vir ninguém.
Cansada de ser aquela amiga desinteressada e sempre ser mal-interpretada. Sinto muito, mas eu sou assim. Uma boba que não dorme depois de um filme de terror, viciada em creminhos, perfumes, maquiagens, roupas e sapatos. Uma menina que tem uma dificuldade enorme de falar o que realmente quer dizer. Que gosta de finais felizes e de histórias bonitas. Se eu fosse candidata a miss ia lá fazer papel ridículo e pedir a paz. Paz entre as pessoas e felicidade geral da nação.
Eu tenho consciência de que não vou conseguir parar de tentar salvar todo mundo, mas tô aprendendo que não dá pra sentir culpa por ser feliz. Eu estou feliz gente!! Demorou, mas eu estou feliz. Eu sofri muito, já gostei demais, já passei por poucas e boas. Sim, sofri e surtei na frente de todo mundo. Delícia né? A galera acompanhou tudo como se fosse uma novelinha. E agora, não tô afim de explicar que, MESMO ASSIM, depois de tanta coisa eu estou bem. Passou. Depois de tanto tempo passou. Porque é tão difícil acreditar? É porque tá todo mundo ainda lá? Acompanhando como se fossem existir cenas dos próximos capítulos? Qual o problema? Minha novelinha acabou e começou de novo. A história foi bem legal, atraiu a atenção de muita gente. E se não deu certo para alguns personagens é uma pena. Existem atores de uma novela só. E existem outros que conseguem se desfazer do personagem antigo. Mesmo quando o público prefere aquele lá, cheio de conflitos, altos e baixos e situações absurdas.
Um recado pro "meu público": eu sinto muito mesmo. Não quero incomodar ninguém e nem decepcionar os fãs daquela história cheia de drama. Agora eu sou uma sem-graça com orgulho. Não tenho mais histórias mirabolantes pra contar, nem cenas de filme pra dividir com as pessoas. Porque eu simplesmente quero casar, ter filhos, ser cafona, chata, recortar revistas pra fazer cartões pra ele e ficar feliz com esse cara que me fez ver outro mundo na minha frente. Um mundo sem platéia e contos de fadas que simplesmente tem final. Ponto final. A gente procura grandes emoções, montanhas-russas... Olha, vivi tudo isso. É lindo, legal, mas dá um enjôo danado no final. E agora eu quero uma coisa tão simples que as pessoas esquecem de procurar. Eu quero uma vida normal. Estável. Assim, aparentemente chatinha para algumas pessoas, mas extremamente feliz. E vou contar um segredo: muito mais excitante que qualquer montanha russa. A diferença: o frio na barriga ainda tá lá, mas não dá enjôo, nem medo de cair o tempo todo.
Eu confesso, estava viciada nessa vida louca. Aí quando eu cansei de ir de um lado pro outro, ser maltratada e entender que não era nada comigo, que era ele quem não estava bem. E depois se transformou num amigo que precisava de ajuda, então sempre me diziam: ah, dá um desconto... Eu encontrei alguém que chegou e me ensinou que, simplesmente, não dá pra sofrer por coisas ou pessoas cujas atitudes não dependem de mim... Não dá pra dar as mãos pra ajudar alguém a se levantar e tomar um tapa como resposta. E dói. Cada palavra mal dita dói muito mais que um tapa. Eu sou legal, boazinha. Mas nem tô afim de ser canonizada. Eu quero falar. Xingar quando tenho raiva. Virar às costas sem culpa quando estou cansada. Mandar todo mundo pro inferno. E ficar aqui. Pensando em mim um pouco. Parar de cuidar e ser cuidada um pouco. Quero escrever. Sentir. Viver pra salvar o meu mundo. Que é MEU e ninguém tasca.