quinta-feira, 29 de novembro de 2007

...Não podia ser só insônia...

Algumas noites são longas. Difíceis. Parecem aqueles dias sem cor. Cinzentos e gelados. A casa fica vazia, silenciosa e as paredes frias. E a gente começa a ver e sentir coisas estranhas. É mais complexo que insônia. Tem alguma coisinha bem complicada que me tira o sono. Não sei o que é. Mas está lá.

Então penso em escrever. Quero escrever todas as histórias bonitas que eu não vivi. Escrever o que eu amo. O que eu odeio. Escrever tudo aquilo que me faz querer fugir. E me salvar. Criar asas e ir pra um mundo novo. É isso. Preciso escrever. Sentir o impossível. E é nessa hora, quando tento fechar os olhos e voar que eu me lembro. Lembro daquela coisinha. Uma coisinha complicada que não me deixa dormir e prende meus pés no chão. Nesse chão frio. Penso mais um pouco. Ligo o som porque o silencio me incomoda agora. Olho em volta. Minhas roupas jogadas no chão, tudo fora do lugar, caixas cheias de passado, livros e papéis, muitos papéis. Reviro tudo. Ta lá. Uma folha de papel escrita a lápis. Letras miúdas. Letras que me dizem muito. Achei o que eu procurava.

Naquele papel, estavam três palavrinhas que contam a minha história. O nome do meu livro. Só eu sei. Talvez eu e mais alguém.

Agora posso dormir.

quarta-feira, 14 de novembro de 2007

...A caixa....

E o tempo passou. Ventou muito e tudo aquilo que a gente passou voou pra longe. Depois das tempestades, os dias começaram a ficar mais calmos. A gente não é mais a gente, mas eu continuo sendo eu, e você continua sendo você. Maravilha. Era o que a gente precisava. Todo mundo no seu devido lugar. Só que não existe vento nem tempestade capaz de fazer a gente esquecer. Tá tudo lá longe, ninguém sofre mais... Agora, esquecer?? Impossível.

E bem no fundo do meu armário tem uma caixa. E é lá que está a nossa história, bem guardada. É uma caixa especial, preciso dizer. Lá dentro cabem todos os nossos cheiros e gostos. Cabem sensações também. Além das cartas, fotos e das nossas cores. Não é sempre que eu vou pra lá. Tem que ter cuidado pra abrir a caixa. Ela é frágil. E se eu estiver também, posso ter vontade de jogar tudo fora.

Mas não posso, por que é lá que eu busco inspiração naqueles dias sem cor, sem gosto e sem cheiro. É pra lá que eu vou quando eu passo por alguma decepçãozinha nova, ou quando quero acreditar que aquele turbilhão de emoções que veio junto com você, vai voltar pra mim com outro alguém. Assim, de surpresa.

Quando eu não me encontro e as palavras ficam vagando soltas na minha cabeça é só pegar a caixa mágica olhar e sentir alguma das coisas que tem lá dentro. Sempre dá certo. Lá dentro tem milhares de textos sobre nós que ainda não foram escritos. Sobre mim, sobre você, sobre o mundo. Lá dentro tem uma saudade de tudo que a gente ainda não viveu e não fez. Não é brincadeira não. E também não é pra qualquer um. Mágica não é pra qualquer um. É só pra quem consegue enxergar além do que se vê. Pra quem sabe que o que importa é o que carregamos dentro da gente. E que sentir é muito melhor do que entender.

... dois anos e o amor de duas vidas...

Quando eu te vi, aquele dia, pela primeira vez, não sei dizer como me senti. Por algum tempo me lembrava do medo. Do frio na barriga que me deu quando ouvi a sua voz, e as notas do seu violão. Tive medo por que sabia que o que quer que estivesse sentindo, eu não podia. Naquele momento não podia. É bem verdade que eu nunca tinha sentido nada parecido, o que tornou tudo mais difícil ainda de lidar. Naquele minuto, quando te vi, ouvi a sua voz, acho que entendi. Eu entendi que era sua. E sabia que, a partir dali, teria problemas, por que você também era meu. Não estávamos preparados para amar assim, sem limites. Daquele jeito. Esquisito, intenso e incondicional (lembra?). Vai ver até o amor precisa de limites.

Eu fugi. Tentei o quanto pude. Sei que você também. Mas acho que a gente, numa sintonia difícil de acreditar, fugiu em momentos diferentes. Primeiro eu, depois você. Mas alguma coisa não deixou a gente desistir. Então seguimos em frente e encaramos aquela confusão que tomava conta da gente. Não tem problema confessar que o medo aumentou nesse momento. Por que foi aí que entendemos que tínhamos muitos obstáculos. Não era coisa pouca não. Mas o frio na barriga, o beijo melhor do mundo, a felicidade que doía e as flores colhidas no jardim faziam valer a pena. A gente valia a pena.

Depois aconteceu quase de tudo. Amor, lágrimas, brigas, saudade, separação e amizade... Nos apoiamos diante da dor, do medo, da morte e também dos problemas mais comuns da vida. Acho que isso criou entre nós uma cumplicidade que transcende, que ultrapassa os limites desse mundo. Não dá para explicar. É coisa de sentir. E agora, quando estamos em silêncio, secretamente sabemos. Sabemos que estamos ligados, mesmo quando parece que está tudo tão longe. Não precisamos dizer nada, provar nada. Simplesmente sabemos. E isso só importa a nós dois. Somos a prova de que em dois anos pode caber o maior amor de uma vida. Das nossas vidas pelo menos.

... E quando a gente não sente nada?? ...

Desde criança nunca gostei de competir. Fugia das aulas de educação física e me assustava vendo o quanto era importante ganhar para algumas pessoas, ou mesmo o quanto gostavam de ver os outros perderem. É verdade, perder é ruim pra caramba. Mas ver os outros perderem nunca vai ser bom pra mim como eu sei que é pra muitas pessoas que torcem por fracassos meus. E eu admito. Me falta estratégia. Me falta malandragem. E me sobram machucados, de tanto cair por não saber fingir. Ou mesmo fechar a guarda de vez em quando pra lidar com tanta gente pequena.

A gente precisa aprender a jogar pra sobreviver. Viver em sociedade. Vai ver por isso ultimamente é mais fácil ser eu mesma em casa sozinha com o meu cachorro. Falo o que quero, a gente se diverte e se ele não concorda comigo late e fica longe, depois volta abanando o rabinho. Sem fingimento.

Parece que uma parte de mim está agonizando. Aquela menina que não conseguia fingir sofreu uma parada cardíaca de tanto sentir coisas que não cabiam dentro dela. E a equipe técnica nem tem desfibrilador.

Quando a gente sofre, tudo o que mais espera é a chegada desse momento. Aquele em que a gente começa a enxergar as coisas mais claramente e toma um tapa na cara da realidade. Aí, pára de acreditar. Pára de esperar que as coisas aconteçam. Pára de fingir que está tudo bem. Mas e aí? E quando tudo passa? Não existe mais o amor. Nem raiva, nem ódio, nem mágoa, nem tristeza... Parece que as coisas perdem a graça.

Podem me chamar de louca, mas eu preciso. Preciso sentir. Qualquer coisa, dor, amor, saudade. Uma tristezinha que seja. Estranho sentir esse momento. Não saber se consigo ser eu sem sentir nada. Lembro que passei muito tempo assim. Não sentia nada e tinha medo. Aí, de repente mudou tudo. O que eu menos acreditava aconteceu. E quando eu perdi o medo de sentir, comecei a entender porque tinha medo antes.

Agora o que me assusta é não sentir. Por que sei que desistir de tudo e não sentir nada é tão difícil pra mim, que eu só consigo fazer uma vez.